Uma boa história começa pelos seus diálogos, pois tão importante quanto á ação dramática que se desenrolará e pela qual se contará a história, a maneira pela qual a personagem se expressará, determinará o sucesso ou fracasso da trama. Ninguém fala igual ao outro, portanto, na obra dramática, não existe espaço para que personagens entoem as suas falas de forma discursiva e professoral, a menos que seja a sua característica, pois, afinal, ninguém anda pelas ruas falando desta forma.
A maneira como a personagem fala, também faz parte de sua caracterização, e deve condizer com aquilo que vemos em cena, não é só o figurino, os trejeitos e etc e tal, as suas idéias e convicções são expressadas e levadas ao público, através de seus diálogos e, palavras mal colocadas na boca de uma personagem, além de soar falso, acaba descaracterizando-a e coloca toda a intenção de contar uma boa história em risco.
As idéias e convicções do autor, não podem e nem devem se valer de uma personagem para serem repassadas ao grande público, pelo menos não da forma que o autor pense e fale. A boa construção de uma personagem, incluindo aí, a maneira pela qual ela se expressa, é que levará ao público, tudo aquilo que o autor acredita, nada pode ser forçado. O autor não deve fazer uso de discursos panfletários e nem usar de tom professoral para passar sua mensagem, aliás, se você conhece um professor, sabe que nem ele é tão didático quando conversa com seus alunos.
A construção da personagem é o alicerce principal de uma história, pois é ela quem se comunicará com o público. O autor, quando da construção da sua personagem, precisa ouvi-la, deixar que ela se expresse da maneira que sua característica fique clara quando ela for abrir a boca para falar. Em alguns trabalhos dramáticos é possível ver de uma forma bem nítida esse problema de construção da personagem. É só você prestar atenção em alguns diálogos das novelas que estão em cartaz, que você entenderá do que estou falando. Nem o ator que interpreta a personagem, acredita naquilo que está falando, tudo soa inverossímil demais.
Não adianta nada ter uma boa história, boas seqüências de ações dramáticas, cuidar do cenário, ou da filmagem, ter uma trilha sonora bem cuidada, ter ensaiado exaustivamente seu papel, se quando a ação transcorre, a personagem fala de uma maneira que não corresponde ao seu comportamento. Há de se prestar a atenção na boca de quem se colocará cada assunto, pois nem todo personagem tem condições de falar o que o autor quer, da maneira que o autor deseja.
Dramaturgia não é assim tão simples, demanda muito trabalho de pesquisa de assuntos e comportamentos. Não basta ter uma idéia brilhante, uma vontade enorme de escrever, se não souber fazer com que a sua personagem fale por ela e não por você. O maior segredo da dramaturgia é justamente a habilidade que o autor tem para colocar os diálogos certos na boca das personagens certas, quando isso acontece, é sucesso na certa.
Escrito por Paulo Sacaldassy
fonte: http://oficinadeteatro.com/conteudotextos-pecas-etc/colunas/2-coluna-de-paulo-sacaldassy/405-a-personagem-e-quem-fala