sexta-feira, 12 de julho de 2013



“O ator tem a missão de ensinar para o seu público. Fazer ele rir, chorar, sentir emoções jamais sentidas” (Aline Regla)
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Alex Bússulo
Aos 23 anos de idade, a nogueirense Aline Rodrigues Regla já coleciona um amplo currículo artístico. Já atuou em inúmeras peças de teatro com o Movimento Cultural Brincantti e até ministrou aulas de balé. O último trabalho da atriz, que está na mídia atualmente e que está fazendo sucesso em todo o país como a primeira websérie musical do Brasil é a ‘Despertar’, uma trama que narra os anseios e descobertas de um grupo de jovens.
Formada em Publicidade e Propaganda pela PUC – Campinas, Aline fez vários cursos de Artes e tirou o DRT, que permite chamá-la, assim, de atriz profissional.
Na entrevista desta semana, a nogueirense fala sobre as dificuldades em viver da arte, a importância da valorização da Cultura e como conseguiu o papel na websérie. Confira:
Como você descobriu a vocação para o mundo artístico? Na verdade, eu costumo dizer que a arte me descobriu, porque iniciei muito cedo. Eu comecei a fazer teatro com o grupo ‘O Fingidor’ quando tinha apenas quatro anos de idade. É claro que as participações eram pequenas, mas tudo isso já foi me iniciando no mundo artístico. Depois disso, nunca consegui me distanciar da área e, conforme eu fui ficando mais velha, comecei a conseguir melhores papéis, estudar e me aprofundar nas diversas áreas artísticas e de atuação.
Quais trabalhos já desenvolveu? Meu primeiro papel no teatro foi de uma estrelinha![risos] Eu tinha quatro anos, na peça ‘Maroquinhas Fru-Fru’, com o Grupo ‘O Fingidor’. Logo após, interpretei uma ninfa em ‘O Doente Imaginário’. Depois criamos a nova geração de ‘O Fingidor’ e montamos ‘A Gata Borralheira’, em homenagem aos dez anos do grupo e ‘Tribobó City’, meu primeiro musical. Com a criação do ‘Movimento Cultural Brincantti’, dentre as diversas montagens, participações em eventos, entre outros, participei das peças ‘O Avarento’, que foi a primeira montagem grande do grupo, ‘Um Certo Dom Quixote’, que nos rendeu o terceiro lugar na nossa região do Mapa Cultural Paulista, ‘O Castelo de Mulumi’, ‘La Identidad’, que considero ter sido a peça mais desafiadora que eu fiz até hoje, e agora, em cartaz com ‘Setes’. Isso tudo, aqui em Artur Nogueira. Fora daqui, no Polo Cinematográfico de Paulínia, comecei fazendo figurações em filmes, até que passei em um teste para elenco de um filme que ainda será lançado, onde fiz o papel de uma secretária. O filme se chama ‘Entre Vales’. Vamos torcer para que a minha cena esteja no filme [risos]. A gente nunca sabe o que pode ser cortado na edição final. E vieram outros trabalhos menores. Um dos últimos que eu fiz e um dos mais grandiosos, sem dúvidas, foi a websérie ‘Despertar’, que está no ar agora.
Como analisa a profissão de atriz hoje no país? Não é fácil viver de arte, sem dúvida. Tenho poucos amigos do ramo que conseguem se sustentar somente trabalhando na área. No geral são jornalistas, advogados, publicitários. Alguns, como eu, para levar a vida dão aulas de teatro, dança e canto. No interior é tudo ainda mais complicado. Daí tem aqueles que vão para os grandes centros e conseguem seu espaço. Outros, tentam, tentam, e continuam tentando. Conseguir um espaço nesse meio tão concorrido não é nada fácil. Pelo contrário. Tem que ter muita dedicação, muita coragem e dar a cara a tapa, além de ter sorte, claro. É uma profissão digníssima, tenho orgulho de falar que é a minha! O ator tem a missão de ensinar para o seu público. Fazer ele rir, chorar, sentir emoções jamais sentidas. Isso é único!
Como é fazer arte em Artur Nogueira? Acho que aos poucos estamos conseguindo criar um público de arte na cidade. Já tivemos épocas de teatros lotados e épocas de teatros vazios. Hoje em dia, acho que as pessoas estão voltando a tomar gosto pela arte novamente. Espero que melhore cada vez mais. As oficinas ajudam muito nesse aspecto, pois as crianças passam a ter acesso a arte desde cedo.
Como define uma boa atriz? Para mim, para ser uma boa atriz não basta ter talento. Tem que ter a sensibilidade de entender o que se passa a sua volta. Ter solidariedade e companheirismo com o parceiro de cena, ser estudiosa, estar sempre buscando se aperfeiçoar. Saber tocar o seu público, dar bons exemplos e ensinamentos. Tem que amar o que faz, amar a arte.
Você já atuou em comédias e dramas. O que é mais difícil, fazer o público sorrir ou chorar? O drama, na minha opinião, tem uma dificuldade particular ao ator. Isso porque o drama acaba exigindo bastante do nosso psicológico e o corpo acaba recebendo isso tudo em forma de tensão. Quando terminávamos de apresentar o ‘La Identidad’, por muitas vezes, meu corpo se sentia esgotado. Mas, em relação ao público, hoje em dia, acho mais fácil fazer chorar do que rir. O humor é uma coisa complicada. Eu mesma sou uma chorona, uma manteiga derretida. Quem me conhece sabe, choro até com comercial na televisão [risos]! Mas quando o assunto é comédia, eu sou muito mais ‘exigente’, digamos assim.
Como o teatro pode contribuir para a formação social de um indivíduo? O teatro nos ajuda a ter uma melhor percepção de nós mesmos e do outro, bem como, o desenvolvimento da consciência corporal. É um processo de autoconhecimento, eu diria. Se conhecendo melhor, o indivíduo se relaciona melhor também com os diferentes tipos de pessoa e situações que encontra pela vida.
Sabemos que seu último trabalho e que está sendo exibido atualmente é a websérie ‘Despertar’.  Como define este novo formato de mídia? O ‘Despertar’ é uma websérie, ou seja, é uma série de episódios lançados na internet. É um conceito um tanto quanto novo, mas que vem crescendo muito hoje em dia no Brasil. Não é como na televisão. Numa websérie, as coisas acontecem num ritmo mais acelerado, já que são muitas as distrações que podem tirar a atenção do espectador do vídeo, portanto, tem que ser dinâmico, tem que prender.
Quem produziu esta websérie? O ‘Despertar’ é uma websérie produzida pela paulistana 8KA Produções, tem direção de Robson Kumode e roteiro de Fernanda Ceretta. O pessoal da 8KA já faz webséries há algum tempo. Posso dizer que eles são craques demais! ‘Despertar’ foi um novo desafio. É a primeira websérie musical brasileira. Olha a responsabilidade?
Qual é a história? A história é baseada num clássico de Frank Wedekind, ‘O Despertar da Primavera’. A websérie mostra um grupo de jovens, seus anseios e descobertas sobre o mundo e sobre eles mesmos. São cinco episódios que mostram jovens estudantes de teatro tendo que tomar decisões e fazer escolhas importantes em suas vidas, sempre tendo que lutar com a pressão dos adultos, que não compreendem esses desejos e sonhos. Os personagens cantam tudo aquilo que eles não conseguem botar para fora em palavras. Ao todo, são nove músicas que foram compostas exclusivamente para a websérie pela Renata Gontijo e o Gilber Souto. As histórias que permeiam toda a série trazem desde problemas típicos da adolescência, como a primeira vez, até problemas mais pesados, como o abuso sexual.
Qual é o seu papel? Minha personagem se chama Isa. Ainda é uma personagem misteriosa, pois sua história vai ser melhor contada mais para frente. O que eu posso dizer é que ela é uma menina determinada, com personalidade forte e apaixonada pela arte. A sua vontade de ser artista não condizia com o que o pai esperava dela e, por isso, ele acaba expulsando a menina de casa. Ela teve que crescer e enfrentar o ‘mundo real’ rápido demais, o que traz outros problemas e conflitos para ela, que eu não posso revelar agora[risos]!
Como conseguiu ser classificada para o elenco? Eu recebi um informativo sobre o teste que seria realizado em Campinas, me inscrevi, me preparei e fui. Quando eu cheguei lá, tinha muita gente para ser vista, analisada. Tivemos teste de canto, de dança e de interpretação. A música e o texto foram disponibilizados antes para aprendermos, e a dança ensinada no mesmo dia do teste. Foi superbacana, nunca tinha feito um teste ‘completo’ assim antes. No dia, eu me lembro que estava rouca e fiquei morrendo de medo da voz não sair direito na hora de cantar. Mas, eu tinha muita vontade de passar no teste, me cuidei até a hora ‘H’, e saiu! Os outros testes também deram certo e dois dias depois já me ligaram para dizer que eu havia passado. Na hora, não acreditei! Ainda brinquei com um amigo meu na saída do teste – ‘Nos vemos semana que vem na primeira reunião de elenco’, e nós dois acabamos passando e rindo dessa história depois.
Como foram as gravações? Todas as gravações foram realizadas no ano passado. Os ensaios começaram uma semana após os testes, em junho de 2012. Estes duraram dois meses com preparação de elenco com a assistente de direção Camila Castellani e com o diretor Robson Kumode. Tivemos preparação de vocal com a Renata Gontijo e passagem de coreografias com Ruben Terranova e com a Patrícia Vaghetti. Depois, foram mais dois meses de gravação. Passávamos os finais de semana e feriados gravando o dia todo em diversas locações de Campinas. Passamos tanto tempo juntos e o trabalho foi tão intenso nesses quatro meses que acabamos formando uma família. A gente se divertia muito gravando e nos bastidores!! Fiz grandes amigos que, com certeza, levarei para a vida toda. E tive ainda uma grande oportunidade, nos dias em que eu não gravava, me ofereci para ajudar nas gravações, e acabei ficando na Produção de Set e Direção e Produção de Arte. Aprendi muito com todo o projeto e evolui muito como atriz.
Além de atriz, você também faz balé e canta. Qual destas modalidades é a mais desafiadora? Cada uma tem seu grau de dificuldade. Mas, fazendo e me aprofundando mais em musicais, eu diria que a verdadeira dificuldade está em unir as três áreas. Cantar, dançar e atuar ao mesmo tempo exige muita preparação física do ator. Eu fiz um curso de musical no começo deste ano, em ritmo mais leve que o profissional, claro, mas o ‘mais leve’ eram quatro horas de ensaio árduo por dia, de canto, dança e interpretação, sem pausa, para apresentar um espetáculo em menos de dez dias. Vou te dizer, haja fôlego[risos]!
Quais são seus planos para o mundo artístico? Quero viver de arte. É o que eu amo! Não almejo a fama, acho que ela é consequência de um trabalho bem realizado e reconhecido e pode vir em vários níveis. Meu plano é continuar estudando, me dedicar mais e ter coragem de ir atrás dos meus sonhos. Gosto de todas as áreas, mas hoje, estou buscando aperfeiçoamento em Teatro Musical. Vamos ver o que está por vir!

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